segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ensinar evolução!

Bom, mais uma vez venho aqui postar algumas dicas de material para o ensino de evolução.
- De novo?
- Eu explico!
Não sei exatamente dizer em que momento o "bicho da evolução" me picou, acredito que tenha sido na faculdade, lá pelo 2º ano, quando eu li "O gene egoísta" do famoso cientista  Richard Dawkins. A picada se intensificou quando tive a disciplina Biologia Molecular ministrada (de forma brilhante)  pelo  professor Nóbrega. No mestrado, durante as aulas com o mesmo professor comecei a refletir mais sobre o assunto, no entanto comecei a ministrar aulas de Biologia em um colégio cristão e criacionista ferrenho, e além disso eu freqüentava a igreja católica, sendo assim meus estudos em bio evolutiva haviam se estacionado (como uma forma de defesa, já que eu sabia que se eu estudasse mais...)
Eu já conhecia todo o repertório criacionista, mesmo porque eu já fui criacionista e sou ex-aluna do mesmo colégio onde estudei por 10 anos (e tive uma professora que anos depois se declarou evolucionista para mim, rs).  Após o rompimento desse vínculo voltei aos estudos de evolução, e ao ensino da mesma.
Foi praticamente uma conversão filosófica (e muito mais que isso), e hoje me sinto livre para pensar e ensinar a história da vida contada pela ciência verdadeira, baseada em fatos...
Esse é um assunto que rende páginas e páginas, senti a necessidade de divagar um pouco sobre essa minha paixão pela evolução, mas sinto que ainda não atingi meu objetivo, e também não vou atingir hoje pois já estou com sono.

Inicialmente minhas sugestões eram:
1- 15 jóias da evolução  trata de selecionadas evidências de nossa grandiosa Evolução (15 trabalhos ligados ao tema publicados na revista Nature). Muito bom, eu havia visto em inglês no ano passado, mas o biólogo Eli Vieira traduziu e ainda publicou na rede virtual Evolucionismo .
É um ótimo material para atualização e também para enriquecer o conteúdo programado para trabalhar evolução com os alunos do Ensino Médio e principalmente na graduação


2- "O maior espetáculo da Terra", de Richard Dawkins é um livro que deveria ser utilizado na graduação e por que não no ensino médio como literatura complementar? Quem sabe!
Essa obra reúne nada mais que as evidências da evolução: fatos fatos fatos- e é ricamente ilustrado.
Dawkins sai da linha de ataque que assumiu em "Deus: um delírio", e retorna como um dos melhores (na minha opinião, o melhor) divulgadores de ciência para o público em geral -Qualquer Quase todas as pessoas  podem ler o livro (afinal, o objetivo de Dawkins é atingir o maior número de pessoas com sua rica prosa evolucionária e ateísta).
A narrativa de Dawkins é extremamente didática, com inúmeras analogias com pitadas de humor, que eventualmente são salpicadas pela acidez que lhe é característica.
(É evidente que os biólogos e afins ficarão ou ficaram bobos durante a leitura. Eu fiquei).

Dica dada, boa noite!

Um comentário:

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

Que coincidência, ou talvez não o seja. O “bichinho da evolução” me picou também na leitura de Richard Dawkins. Foi então que eu compreendi que Theodosius Dobzhansky tinha completa razão em afirmar que “Nothing in biology makes sense except in the light of evolution.” Sem a evolução, a biologia se torna mera disciplina que coleciona fatos mortos, sem vida e sem a luz da coesão causal do processo cego que, mesmo cego, se torna luminoso à luz da evidência. O primeiro livro que li de Dawkins fora “O Relojeiro Cego”. Depois disso compreendi como a evolução é a disciplina mestra da biologia, e não se pode apreendê-la sem esta. Grande parte dos cristãos ainda são hostis à teoria evolutiva. Malgrado a Igreja, com o Papa João Paulo II, tenha declarado a possibilidade de coexistência pacífica entre o dogma da criação e a existência da evolução, muitos católicos, somados a esse movimento de contracultura nascido na década de 20 nos Estados Unidos entre os evangélicos têm ganhado adeptos. São inimigos não só da biologia evolucionista, mas de quase toda a ciência, já que a evolução é uma disciplina corroborada por inferências de inúmeras outras áreas das ciências naturais.

O Eli fez um bom trabalho em traduzir este estudo da Nature. Como conselho pessoal, é melhor nos mantermos na linha de Dawkins: recusar-se a debater em público com os criacionistas. Por quê? Seu interesse não é pela evidência, é pela negação desta. Partem de premissas que não podem ser impugnadas pelo método científico (não são falseáveis); usam-nas como um “filtro” para selecionar aquilo que apóia sua tese, e rejeitar aquilo que a refutam. Invertem o processo de produção do conhecimento científico: a ciência, com a experiência empírica, primeiro coleta dados e depois infere. Os criacionistas primeiro inferem e depois selecionam os fatos. Portanto, é melhor evitá-los, embora continuemos a colecionar as evidências. Como relembrou Dawkins, no desafio dos popperianos: para se derrubar todo o arcabouço da evolução basta que se encontre um único fóssil de coelho que data do pré-cambriano. Ou seja, enquanto que a ciência evolucionista atende aos requisitos de cientificidade dos filósofos da ciência do século XX, a “ciência” criacionista não passa de teologia disfarçada, imune a qualquer refutação experimental.
Sim, concordo plenamente que os livros de Dawkins, especialmente os dois últimos, devam ser exigidos como leitura no ensino médio e superior. Resumem a experiência e o conhecimento de um dos maiores especialistas do século passado e presente, e portanto é uma herança da razão de um iluminista em pleno à turbulência dos pós-modernistas anti-racionalistas. Dawkins é, como Bertrand Russell, a herança viva da defesa da razão em detrimento do obscurantismo desonesto da pseudociência e da filosofia incoerente. Deixo aqui meu elogio ao seu blog, que já ganhou um adepto incondicional e um grande admirador dessa cientista maravilhosa que é você. Grande beijo.